Acerca da lógica do processo de transumanismo, emerge a questão sobre essa “nova classe” de humanos que ignora, tacitamente, as questões sociais e ambientais a elas vinculadas. Essa classe de pessoas deverá ser, por força da sua condição extraordinária, mais eficiente, longeva e avançada tecnologicamente que as demais. Esse não era o sonho dos nazistas? Esses recursos tecnológicos avançados atenderão, inicialmente, a uma casta específica e será pouco provável que alcance a borda das comunidades menos favorecidas. Hoje, as classes sociais, como definido pelo IBGE, são caracterizadas pela renda familiar, ou seja, pelo seu alcance financeiro aos bens de consumo e por sua segurança alimentar. Diferente das pessoas frugais ou dos desafortunados, o “transumano” deverá ser uma pessoa abastada para poder gozar deste lindo e exclusivo “mundo novo”.
Sob esse viés, teremos as classes “inferiores” mais estagnadas do que nunca e, resignadamente, sem acesso às benesses das novas e revolucionárias tecnologias desses tempos emergentes. Isso porque a sociedade consumista em que vivemos valoriza aquilo que possuímos e não quem somos. Logo, é conveniente recordar que ainda estamos discutindo a “exclusão digital” no Brasil. Paralelamente, enquanto saltam quanticamente as tecnologias futuristas do primeiro mundo e bilionários orbitam a Terra em seus foguetes por mero desporto, seres humanos morrem de fome. Não obstante, as mudanças climáticas confirmam o ocaso da humanidade. Há décadas, os cientistas veem advertindo sobre a obliteração do planeta por conta do nosso estilo de vida extrativista e nada está sendo feito para reverter a sobrecarga da Terra. Talvez esses super-humanos habitem Marte, já que dantescos recursos financeiros são usados para chegar ao planeta vermelho, o qual é um gigante desértico flutuando no vácuo do espaço. Os dinheiros que já foram gastos e os que ainda serão investidos podem acabar com a miséria no mundo várias vezes (pasmem!). Outrossim, a estratégia do sistema capitalista é manter as pessoas ocupadas consumindo para sobreviver, alienando-as para continuarem a perseguir, sem oposição, o capital — pão ou iPhone — de cada dia. O proletariado está, não é de hoje, sem tempo para se preocupar com esses avanços tecnológicos tantálicos. As tecnologias, como, por exemplo, a IA, deveriam tornar, por serem capazes desse feito, a sociedade equânime com iguais oportunidades de desenvolvimento para todos, planificando as classes ditas sociais. Atualmente, discute-se uma pensão social global, reconhecendo que milhões de pessoas serão afetadas pela próxima geração de super-humanos e supermáquinas, não necessariamente nesta ordem. Teremos o descarte global do fator humano nos processos produtivos e suas envolvências. Essas pessoas — transumanas — serão, sem dúvidas, mais eficientes para o trabalho do que para as relações interpessoais. A tecnologia do século XXI, dita futurista, contrasta com a sociedade atual que ainda vive sob a sombra das condições precárias do final do século retrasado.
Além disso, não há um liame entre o avanço tecnológico e o melhoramento da qualidade de vida das pessoas menos favorecidas. Ao contrário, cada vez mais essas classes são pressionadas para “baixo”. De certo, em sua última pesquisa, os pesquisadores do IBGE constataram uma flutuação entre o aumento e diminuição da população pobre do Brasil. Contudo, nada que represente uma indicação de alçamento rumo as camadas superiores e de tal sorte possam acessar e usufruir das tecnologias mais recentes.
Em decorrência dos crescentes movimentos sociais que pregam a valorização das relações interpessoais, saúde física-mental, felicidade e mais tempo com a família, as pessoas veem buscando fortificar os sentimentos exclusivamente humanos. O transumanismo, que desumaniza a figura das pessoas, passa a ideia de que essas relações pessoais podem ser substituídas ou se tornarão irrelevantes. Esse aprimoramento tecnológico não atenderá as carências das pessoas por mais afeto, felicidade, família, amor, por meio do “calor humano” e não a gélida superfície das máquinas, por isso, esses movimentos buscam o resgate da simplicidade humana ao nível transpessoal.
É conveniente destacar que essa condição tecnológica tende a não ser democratizada e possivelmente responsável pela ruptura dos ditames da sociedade como a conhecemos. Existirão duas sociedades e serão concêntricas? Talvez uma organizada e outra desorganizada à mercê da tecnologia da outra. E quando esse refugo ou escombros dessa tecnologia chegar aos menos favorecidos, haverá outra mais avançada para ser alcançada e assim segue — convenientemente — o ciclo infinito do capitalismo/neoliberalismo travestido de tecnocracia.
Como descrito por Milton Santos, geógrafo brasileiro renomado, essa evolução é caracterizada como período tecno-científico-informacional. Nessa esteira de pensamento, é possível relacionar essa necessidade de coalescência máquina-humano com objetivo de melhoramento induzido para favorecer os processos industriais e as relações de consumo.
Em decorrência desse modelo, discussões e ações legislativas preventivas devem se inspirar no governo do Chile, pois urge estabelecermos limítrofes aos inescrupulosos interesses comerciais advindos do Neoliberalismo sem fronteiras. Portanto, mediante o que foi exposto, torna-se evidente que a transumanidade é mais uma ferramenta de controle, a fim de garantir a supremacia dos países ditos “desenvolvidos” sobre o resto do mundo.
Revisado por: João Paulo Figueiredo (https://www.superprof.com.br/lingua-portuguesa-analise-escrita-partir-generos-textuais-discurso-santo-andre.html)
Fontes:
http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/meio_maquinas.htm
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