O imediatismo atual assusta. Não pela sua velocidade, mas pela falta de qualidade daquilo que é compartilhado e de como determinadas informações são tratadas. Tudo ocorre tão rápido nos meios telemáticos e nos ambientes virtuais que é quase impossível, para um indivíduo simples, discernir o verdadeiro do falso. É natural haver dificuldade em acompanhar esse intenso fluxo de informações que circulam, resumidamente, em seus feeds de notícias. Tudo leva a crer que esse modelo de apresentação foi pensado para ser pouco atrativo ao questionamento. Em sua maioria, as pessoas acabam por abandonar, em segundos, o que levaram anos para desenvolver — o senso crítico.

Tal ausência de senso crítico leva à presunção de verdade em tudo o que é lido, pois não há tempo (oportunidade) para dirimir dúvidas sobre aquele conteúdo. A informação que será relevante para o receptor será aquela que condiz com suas crenças e, consequentemente, será considerada válida. Por conseguinte, novas versões para fatos pretéritos, presentes e até futuros tomam formas obtusas, difíceis de desmitificar por conta do seu alcance na internet. É como se a inteligência humana estivesse completamente cega diante de tanta informação. E, nesse jeito contemporâneo de trocas de ideias e ideais, hodiernamente, todo mundo sabe tudo.

O imediatismo leva ao pragmatismo e consequentemente a uma versão resumida dos assuntos. Assim, as teorias da conspiração nascem e preenchem as lacunas do imaginário humano, fazendo sentido, não no aspecto de ser factível, já que encontram eco em seus vieses pessoais e inclinações, sejam elas religiosas, políticas, costumes, culturais etc.

A velocidade com que se tem acesso à informação ao nível pessoal, no celular, por exemplo, é impressionante. Contudo, a sociedade não foi educada e preparada na mesma celeridade. Logo, questionar não é o cerne da questão quando se acessa ativamente informações ou as recebe por meio dos algoritmos das mídias sociais, ou internet. As mídias sociais são um enorme processo linear de informação. É difícil retornar àquela informação quando ela já passou pela sua “telinha”, pois dificilmente se repete. Já as propagandas são exaustivamente exploradas.

Seguindo essa linha de pensamento, recentemente, as pessoas tinham acesso aos repositórios de dados e escolhiam o que queriam ler para atender suas necessidades pessoais ou profissionais. Agora, num átimo tecnológico, temos “inteligências artificiais (IA)” em todos os aplicativos que usamos. Essas IAs chegaram para substituir a ineficiência humana? Isso mesmo. As empresas estão tirando o senso crítico e a imaginação dos usuários sob o pretexto de torná-los mais eficientes, eficazes, competitivos e produtivos. Rege o slogan de fazer mais, melhor em menos tempo, quando usamos essas IAs. O advérbio agora transformou-se em sinônimo de ganhar dinheiro.

Ao terceirizar o processo criativo a partir da experiência humana, ou seja, não é percebido que as máquinas estão aprendendo segredos do que é inerente ao ser humano, individualidade e imaginação. Desse modo, acabarão por ser, inevitavelmente, substituídos. O imediatismo de hoje, revestido de desporto (acesse grátis isso, acesse grátis aquilo etc.), busca plagiar a essência humana por intermédio de softwares específicos. A cópia das características da personalidade pelos computadores será um reflexo algente da nossa própria imagem, oca e constituinte do enorme quimo social em voga que flutua perdido nas redes sociais, indissolúvel e indistinguível. A individualidade será obsoleta, pois é certo que se vive a obsolescência social programada promovida pelas Big Techs.

É notório que a educação é a chave para a prosperidade intelectual de uma sociedade — povo. Sem o senso de criticidade, o cidadão é conduzido pelo fluido social sem gravidade. Neste sentido, sem o poder de escolha — livre arbítrio, os cidadãos estão perdendo o senso situacional nas mídias e com isso rasgando os tecidos sociais e interpessoais que os unem — humanidade. Somente a educação, desde a básica, mormente as ciências sociais, pode ensiná-los o antigo hábito de questionar tudo e todos.

Por fim, aquele que não pensa, não existe, já dizia o filósofo Descartes. Servirá, inertemente, aos interesses de outrem.

 

Revisado por: João Paulo Figueiredo (https://www.superprof.com.br/lingua-portuguesa-analise-escrita-partir-generos-textuais-discurso-santo-andre.html).

Fonte: https://portal.redacaonota1000.com.br/tema/14433